Perícia Criminal é decisiva na identificação de desaparecidos políticos da ditadura

A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos anunciou oficialmente a identificação dos restos mortais de Denis Casemiro e Grenaldo de Jesus Silva, desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira. O anúncio, feito nesta quarta-feira (17/04), só foi possível graças ao meticuloso trabalho da Polícia Científica, que utilizou técnicas avançadas de DNA para identificar as ossadas encontradas na vala clandestina de Perus, na Zona Norte de São Paulo.
A identificação das vítimas representa um marco significativo para a justiça e a memória histórica do Brasil. O trabalho pericial, realizado no âmbito do Projeto Perus — parceria entre o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a Prefeitura de São Paulo e a Unifesp — demonstra como a ciência forense é indispensável para a elucidação de casos complexos, mesmo décadas após os crimes.
Os peritos criminais utilizaram técnicas avançadas de extração e análise de DNA a partir de ossadas que permaneceram enterradas por mais de 50 anos em condições adversas. Este tipo de trabalho exige não apenas conhecimento técnico especializado, mas também dedicação e persistência, características marcantes dos profissionais da Perícia Criminal.
Ciência a serviço da verdade e da justiça
Durante a coletiva, a procuradora regional da República e presidente da comissão, Eugênia Augusta Gonzaga, destacou a importância do trabalho pericial: "Por mais que a ditadura tenha mentido que essas pessoas não morreram em suas mãos, que essas pessoas simplesmente desapareceram, eu sempre digo: o DNA delas está lá na vala de Perus, a maior prova da truculência daquele período."
Esta declaração evidencia como a Perícia Criminal é capaz de trazer à tona a verdade que tentaram ocultar. Através de metodologias científicas rigorosas, os peritos conseguiram estabelecer a conexão entre os restos mortais encontrados e as identidades das vítimas, contradizendo as versões oficiais da época da ditadura.
Quem eram as vítimas identificadas pela perícia
Grenaldo de Jesus Silva era militar da Marinha brasileira e foi expulso da instituição um mês após o golpe de 1964 por se opor ao regime. Condenado a mais de cinco anos de prisão, fugiu e trabalhou como porteiro e vigilante. Segundo a Comissão da Verdade, foi morto com um tiro na cabeça em maio de 1972 no Aeroporto de Congonhas.
Denis Casemiro, natural de Votuporanga (SP), era trabalhador rural e posteriormente operário em São Bernardo do Campo. Militante da Vanguarda Popular Revolucionária, foi preso em abril de 1971 pelo delegado Sérgio Fleury, notório torturador do regime. Após quase um mês sendo torturado no DOPS em São Paulo, foi fuzilado.
O caso da vala de Perus ilustra perfeitamente a relevância da Perícia Criminal para a sociedade brasileira. Sem o trabalho técnico e científico dos peritos, as mais de mil ossadas encontradas em 1990 no Cemitério Dom Bosco continuariam sem identificação, e as famílias das vítimas permaneceriam sem respostas.
Um compromisso com a memória e a justiça
A identificação de Denis Casemiro e Grenaldo de Jesus Silva representa não apenas um fechamento para suas famílias, mas também um importante passo na reconstrução da memória histórica do Brasil. Este trabalho continua, pois ainda há muitas ossadas não identificadas na vala de Perus e em outros locais semelhantes pelo país.
A ciência forense, através da Perícia Criminal, prova mais uma vez ser uma ferramenta indispensável na busca pela verdade e pela justiça, devolvendo identidade e dignidade àqueles que tentaram silenciar.