Conheça o novo presidente do SINPCRESP
Biólogo; médico veterinário; graduando em Direito; pós-doutorado em genética; membro da Comissão de Medicina Veterinária Forense do Instituto de Criminalística de São Paulo; membro da Comissão de Medicina Veterinária Legal do CRMV-SP e membro colaborador da Comissão de Proteção e Defesa Animal da OAB-SP, Bruno Lazzari de Lima, de 42 anos, é o novo presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP), que liderará a entidade até 2027.
Bruno assume com uma visão política de aliar a presença na Assembleia Legislativa e no Congresso, com a maior proximidade dos profissionais que atuam nas ruas, muitas vezes em condições adversas. Além de lutar pela independência da Polícia Científica, Bruno Lazzari pretende melhorar as condições de trabalho dos peritos criminais, protegendo-os contra o assédio e garantindo uma infraestrutura adequada.
Para fortalecer a união e a colaboração entre os peritos, Bruno planeja promover eventos e cursos de atualização, mostrando a importância do sindicato e oferecendo oportunidades de desenvolvimento profissional.
Confira abaixo entrevista com o novo presidente e conheça os planos da nova gestão para o sindicato.
Quais são as principais metas e objetivos da nova Diretoria do SINPCRESP para os próximos anos?
Sempre pensei que o papel de um presidente ou diretor sindical fosse político. O sindicato precisa estar presente na Assembleia Legislativa e no Congresso, buscando melhoria salarial e a aprovação da PEC que nos inclua dentro da Constituição Federal para que a gente alcance uma autonomia ainda maior. E para que, obviamente, no caso do salário, os peritos tenham uma condição melhor de vida. E eu acho que esse papel, nas gestões anteriores a mim, em especial na gestão do Eduardo Becker, foi muito bem feito. Ele cumpriu esse papel de uma maneira muito adequada.
Eu sinto que o sindicato precisa se aproximar um pouco mais daqueles que estão na rua, trabalhando durante a noite no frio, expostos ao perigo, à violência. Eles precisam de uma atenção maior. Eu deixei muito claro para os meus colegas que compõem a nossa chapa que o meu objetivo principal seria melhorar as condições de trabalho e proteger esses profissionais contra o assédio.
Quero entender por que que as nossas viaturas não são renovadas da mesma forma que ocorre com a Polícia Militar e com a Polícia Civil. Quase todos os anos ou a cada dois anos eles têm uma renovação de frota e a nossa demora cinco anos, seis anos. Nossas viaturas estão sem farol, sem sirene, sem giroflex, com os bancos rasgados, cheirando a mofo, em condições terríveis e não são renovadas. Constantemente um colega manda mensagem no grupo avisando que está na rua porque a viatura não liga.
Eu sou plantonista, gosto de trabalhar na rua e já passei por situações no prédio sede que são inimagináveis para a maior Polícia Científica do hemisfério sul, que pertence ao estado mais rico da nação. Já faltou papel higiênico, água e tivemos que comprar do próprio bolso.
E eu não culpo, que fique muito claro isso, a superintendência, eu não culpo a diretoria, porque quem dá a verba é quem está acima deles. A superintendência e os diretores precisam administrar os poucos recursos que recebem para sustentar uma instituição que custa caro, mas é importante e tem que ser respeitada.
Como a nova Diretoria planeja fortalecer a união e a colaboração entre os peritos criminais do estado de São Paulo?
O perito criminal só vai perceber a importância do sindicato quando sentir na pele, literalmente. Quero me aproximar do pessoal que está na rua e mostrar que o sindicato está ali para ajudá-lo, para protegê-lo, que o perito é importante, e mostrar que, sem o sindicato, o pouco que já foi conquistado não estaria aí. A melhor forma de eu me aproximar e fortalecer a colaboração entre peritos criminais é mostrando o trabalho que faremos.
Além disso, o sindicato vai proporcionar eventos e cursos de atualização para os colegas. Dentro da nossa diretoria a gente tem um grupo bastante heterogêneo, com formações diferentes, que trabalham em lugares diferentes. Então, eventos e cursos serão muito importantes para fortalecer essa união.
Quais ações específicas serão tomadas para melhorar as condições de trabalho dos peritos criminais?
Nós vamos fazer um levantamento das condições de trabalho dos núcleos e das equipes distribuídas pelo Estado. Pretendo visitar esses núcleos e equipes, questionar o que está faltando para os peritos terem uma melhor condição de trabalho e exercerem as atividades de uma forma mais adequada.
Depois vamos nos aproximar da diretoria e da superintendência, apresentar essas demandas e buscar soluções, trabalhando em harmonia. A intenção é ajudar a superintendência e não se contrapor a ela. Evidentemente, existirão situações em que o sindicato vai bater de frente, porque a superintendência vai ter uma visão, nós teremos outra. E a nossa visão sempre estará alinhada com os peritos criminais.
Isso acontece porque o sindicato pode bater e tem essa liberdade para confrontar o governo. A superintendência, os diretores muitas vezes não, porque eles estão em cargos de confiança. Não é incomum que um diretor tente uma ação em prol da categoria e seja substituído. A gente observa isso acontecendo a todo momento, mas não deveria ser assim.
De que maneira o SINPCRESP pretende atuar para garantir a independência da perícia criminal e a imparcialidade da justiça?
A única forma de garantir a independência da perícia criminal é a aprovação da PEC 76 de 2019 no Congresso. Ao entrarmos na Constituição como uma força policial, teremos uma separação completa nos estados. Aqui em São Paulo, embora exista essa separação administrativa entre Polícia Científica e Polícia Civil, na prática, a Polícia Científica permanece subordinada à Polícia Civil. E isso acontece porque a corregedoria é comandada por delegados.
Um exemplo: durante a pandemia, nosso superintendente soltou uma portaria dizendo que nós não deveríamos atender mortes suspeitas quando não houvesse uma situação clara de crime, porque, afinal de contas, as pessoas estavam morrendo de Covid e na época não tinha vacina. Só que nós trabalhamos durante toda a pandemia porque, mesmo com essa portaria, os delegados de polícia continuavam pedindo esse tipo de perícia. Nós citávamos a determinação da SPTC para o delegado plantonista, mas ele não acatava e dizia que ela não tinha validade nenhuma. Isso é recorrente.
A Polícia Científica não atende casos não criminais e, vira e mexe, entra para requisição não criminal e o perito tem que atender. Porque, se não atende, vai para a corregedoria. Os delegados têm muito conhecimento e exercem um trabalho importantíssimo, essencial. Eu penso que a Polícia Civil precisa ser protegida também. Nos dias de hoje, estamos percebendo que a Polícia Civil está perdendo parte das suas atribuições legais dentro do Estado.
Eu gostaria de ajudá-los, como for possível, colaborar com o sindicato e associação dos delegados. Não discuto a importância dos delegados e a autoridade que eles devem ter, mas, falando como um representante dos peritos criminais, entendo que deveria existir uma maior independência. Isso só vai ser alcançado com a aprovação da PEC.
Ah, mas por que a gente não separa a Polícia Científica da Polícia Civil, como ocorreu em outros estados, mesmo sem essa PEC? Porque se isso acontecer, você deixa de ser policial. Sem ser policial fica mais difícil conseguir o porte de arma, a compra de arma. Não podemos esquecer que o perito criminal está exposto a riscos. Existe um decreto que garante esse porte, mas a gente sabe que não é tão fácil conseguir comprar uma arma e portá-la se não tiver o cargo de policial.
Quais são os planos da nova Diretoria para oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional e capacitação aos peritos criminais?
O sindicato tem um diretor de cultura e um diretor de educação que terão total liberdade para propor eventos e cursos. Pretendemos oferecer cursos de aprimoramento gratuitos para os sindicalizados. Para os não sindicalizados, faremos o possível para ter um custo reduzido porque eu gostaria que o colega não sindicalizado também tivesse a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos e quero mostrar para ele a importância do sindicato para convencê-lo a se juntar à entidade. Outra frente de atuação será a participação e organização de congressos.
Qual a primeira ação concreta da nova Diretoria para buscar a melhoria da infraestrutura da Polícia Técnico-Científica?
Existe uma série de demandas que já chegaram ao Sindicato. Mas, antes de tudo, pretendo agendar uma reunião com o Dr Claudinei Salomão e com os diretores do Instituto de Criminalística para ouvi-los e entender a situação. Além disso, vou apresentar as demandas que chegaram, falar sobre a forma como entendemos que esses problemas deveriam ser resolvidos, e ouvir o outro lado.
A ideia é manter essa ponte com a superintendência e a diretoria para tentar chegar na solução dos problemas que nos são apresentados da melhor forma possível. A partir dessas conversas com os peritos e com a direção, direcionaremos nossa atuação, mas podemos dizer que alguns pontos já estão no radar do Sindicato: a questão das viaturas e da falta de AVCB nos prédios onde são sediados os núcleos e equipes.