Polícia Civil sofre com defasagem no número de funcionários no Alto Tietê


A Polícia Civil do Alto Tietê sofre com a falta de funcionários. Os servidores públicos denunciam as graves consequências dessa defasagem no quadro da polícia. Em 2013, foi feito um concurso público para preencher milhares de vagas, mas nem todos os aprovados foram chamados. Desde 2011, as polícias Civil e Científica contrataram 4.340 profissionais em todo Estado. No período, 6.195 servidores se aposentaram. Resultado disso é que o governo do Estado tem atualmente 1.855 policiais e peritos a menos do que tinha em 2011. Defasagem que pode ser ainda maior.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado disse que está investindo no reforço do efetivo das polícias Civil e Técnico-científica por meio da contratação dos aprovados em concurso e que eles são enviados de acordo com a necessidade de cada região.

A engenheira Cláudia Meleu foi aprovada em 2013 para perito criminal na região de Santos. Para o cargo foram abertas 447 vagas. Mesmo assim, ainda não foi chamada. “Você investe muito dinheiro com isso na expectativa de finalmente ser homologado. Dois anos depois, sem ser chamada, parece que a via sacra piora”, relata.

A situação é a mesma para um homem que prefere ter a imagem mantida em sigilo e passou para o cargo de investigador. Os aprovados criaram um grupo na internet. “Até agora estamos aguardando o governador nomear os demais aprovados no concurso de 2013, sendo que estamos praticamente em 2017. É aquela sensação de ter pago por algo e não poder levar o produto que se angariou com tanto esforço”.

O cargo de investigador era o que oferecia mais chances no concurso de 2013: 1.384 vagas. Para escrivão eram 788 vagas, oficial administrativo 600 vagas e para delegado 120 vagas. Ao todo, no concurso da Secretaria de Segurança Pública (SSP), havia 3.981 vagas para 11 cargos.

Uma investigadora, que tomou posse do cargo, diz que na delegacia onde trabalha mais de 10 funcionários saíram e não houve reposição. Isso, do ano passado para o fim de 2016. Ela também prefere não mostrar o rosto. “Acaba dificultando a investigação. A gente fica esperando no local os peritos chegarem por horas porque não tem efetivo de peritos na Polícia Técnico-científica. Então às vezes os corpos ficam expostos por horas, ferindo a dignidade, tanto da pessoa que está lá, quanto da família que está velando o corpo do ente querido na rua”, diz.

Uma das consequências mais graves aparece no desempenho da Polícia Civil. O sindicato da categoria diz que a perda de policiais civis nos últimos anos faz com que muitos casos fiquem sem solução e que os investigadores só consigam descobrir e resolver cerca de 4% de todos os crimes que acontecem.

“A população vê bem quando vai fazer um boletim de ocorrência e demora horas. Mesmo depois de registrar o boletim de ocorrência, não acaba ali. A população quer esclarecimento, que o criminoso seja levado à cadeia. E isso não ocorre. A política de segurança pública no Estado de São Paulo está na contramão do interesse da população”, diz presidente do Sindicato dos Policias Civis da Região, Waldir Fernandes da Silva.

O sindicato explica ainda que para amenizar a defasagem as Prefeituras costumam ceder estagiários para as delegacias. “Fornecem funcionários municipais para auxiliar no trabalho da polícia, bem como estagiários, através de convênio, mas não são profissionais preparados para exercer o trabalho de Polícia Judiciária”, conta Silva.

Outra consequência é que, fora do horário comercial, quem passa em frente a uma delegacia e vê a unidade funcionando não imagina que investigadores e escrivães estão trabalhando sem delegado. É o caso da delegacia de Biritiba Mirim, onde o delegado também responde por outra unidade, em Mogi das Cruzes.

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