Peritos de SP publicam estudo na Revista Brasileira de Criminalística
Os peritos criminais do Instituto de Criminalística de São Paulo Victor Cominato Theodoro e Gabriel Pinto de Oliveira publicaram, na Revista Brasileira de Criminalística, um estudo sobre os locais de suicídio na capital paulista. A dupla analisou 512 laudos de locais de suicídio ocorridos entre os anos de 2016 e 2023. “O suicídio é um problema de saúde global, a segunda causa mais comum de morte entre jovens. O estudo pretende fornecer uma análise detalhada, contribuindo para a compreensão das dinâmicas envolvidas e auxiliando na formulação de estratégias de prevenção”, afirma Oliveira.
O perfil das características dos locais de suicídio na Capital pode ser comparado com estatísticas nacionais, publicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e com dados de publicações de peritos de outras regiões do país, revelando os contrastes e semelhanças entre as áreas analisadas.
As estatísticas de São Paulo foram comparadas com as relatadas em um trabalho similar, feito no sertão da Paraíba entre os anos de 2013 e 2017.
Um dos dados obtidos é a predominância de indivíduos do sexo masculino, que na amostra da cidade de São Paulo representam 80,9% do total de casos. Essa prevalência está em consonância com os dados nacionais, que foram de 75,8%, em 2016, e 77,7%, em 2019, segundo a OMS. Essa prevalência também é observada na amostra do sertão paraibano, onde 83,3% dos casos envolveram indivíduos do sexo masculino.
Semelhanças
Outra característica em comum entre as amostras da cidade de São Paulo e as da região do sertão da Paraíba é o enforcamento como principal meio utilizado. Nos dados obtidos para a cidade de São Paulo, cerca de 56% deles ocorreram por enforcamento, enquanto no sertão paraibano essa taxa foi de aproximadamente 76%. Na avaliação dos peritos criminais, isso se deve à facilidade de comprar e utilizar os instrumentos necessários para sua consumação.
As diferenças entre o cenário da metrópole e o da região predominantemente rural também acabam se impondo nas estatísticas: o segundo meio mais comum utilizado para a prática do suicídio na amostra da cidade de São Paulo foi a precipitação, enquanto nenhum registro desse caso foi relatado para o sertão da Paraíba. Essa diferença se deve, muito provavelmente, à grande quantidade de edifícios e viadutos na grande cidade, quando comparada a uma região rural.
Outro contraste é uma maior ocorrência de suicídios por envenenamento na região do sertão da Paraíba, que representa 6,7% dos casos daquela amostra, enquanto na capital paulista apenas 1% dos casos de suicídio ocorreu por envenenamento. Um fato que pode explicar essa diferença é a maior facilidade de acesso a agrotóxicos na região rural.
Sem margem para dúvida
Um dado interessante obtido apenas com a amostra da cidade de São Paulo é que, dentre os casos de suicídio, mais de 72% foram constatados em suspensão incompleta, enquanto os casos de suspensão completa representam menos de 28% do total de enforcamentos.
Os peritos explicam que essa informação é importante porque há questionamentos frequentes, por parte de autoridades, aos laudos periciais, indagando sobre a possibilidade de o indivíduo ter se enforcado mesmo com os pés tocando o chão ou qualquer outra superfície. Além de ser possível, conforme esclarece a medicina legal, os casos de enforcamento por suspensão incompleta são majoritários.
Local preservado
O estudo revelou que em 51,4% dos casos, o corpo permaneceu na posição original após a morte. Alterações no local ocorreram em 48,6% dos casos, muitas vezes devido a tentativas de socorro por familiares ou amigos.