Perito criminal de SP publica estudo de caso na Revista Brasileira de Criminalística


O perito criminal Leandro Santos Lopes, da Equipe de Perícias Criminalísticas do DHPP de São Paulo, publicou um estudo de caso na Revista Brasileira de Criminalística sobre a análise de um local de crime (duplo homicídio e uma tentativa de homicídio) e do calçado de um suspeito.

O objeto foi analisado com o emprego de luminol para pesquisa de sangue no solado, com análise de DNA das regiões quimioluminescentes ao luminol e com o microscópio eletrônico de varredura para pesquisa de fragmentos de vidro. Ambos apontaram elementos comuns ao local de crime e solado do calçado do suspeito, indicando que este esteve no local dos fatos durante ou após o crime, pisando no sangue de uma das vítimas e também em fragmentos de vidro presentes na entrada do estabelecimento.

O perito explica que casos em que o criminoso chega no ambiente, desfere tiros e foge são um grande desafio ao trabalho pericial, dada a precariedade de vestígios. “A dinâmica desses delitos na maioria das vezes se desenrola sem que o autor estabeleça muito contato físico com o local de crime. Porém, por mais que aparentemente ele não tenha deixado indícios materiais de autoria, ele pode ter, involuntariamente, levado elementos do local consigo”, afirma o perito criminal.

Relato de caso
Em março de 2019, peritos criminais foram chamados para atender local de crime de homicídio e tentativa de homicídio em um Bingo. A princípio, tratava-se de um caso de autoria desconhecida, porém, existia a informação de que, horas antes do crime, um indivíduo conhecido na região teria discutido e entrado em luta corporal com os seguranças do estabelecimento, prometendo retornar para se vingar.

No corredor de entrada foi visualizada uma grande quantidade de vidro fraturado, que cobria quase que a totalidade do piso na região. Isso indica que, para entrar no estabelecimento após a fratura do vidro, seria pouco provável não pisar em algum fragmento. Uma grande quantidade de manchas de sangue se iniciava na entrada e se interrompia no ponto de imobilização da vítima fatal, indicando o sentido de movimentação da fonte produtora do vestígio. Havia, portanto, alta probabilidade de o material estar impregnado no solado do sapato do autor.

Ação foi filmada

Câmeras de vigilância capturaram a ação do atirador e foi possível observar que o indivíduo tinha a cabeça coberta por uma balaclava preta, utilizando uma gandola do tipo militar, uma calça jeans e um calçado que aparentava ser um mocassim marrom com detalhes em branco.

A equipe pericial, juntamente com papiloscopistas, investigadores e com a autoridade policial, foi à casa do suspeito. A equipe foi recebida pelo próprio indivíduo, que trajava vestes diferentes das visualizadas nos vídeos, porém calçava um sapato com as características similares ao visualizado nas imagens. Foi solicitado que entregasse o calçado para a realização de exames periciais complementares.

O calçado foi submetido ao exame com luminol e foi possível visualizar regiões quimioluminescentes em determinados pontos. Os vestígios quimioluminescentes foram coletados e encaminhados para o laboratório de Biologia e Bioquímica do Instituto de Criminalística. O calçado foi encaminhado para o Núcleo de Física.

A análise dos swabs coletados do solado revelou a presença do perfil genético de uma vítima fatal. A análise por meio do microscópico óptico com captura de imagem revelou diversos fragmentos de material semelhante a vidro, que apresentavam diversas fraturas do tipo “conchoidais”, que são observadas em fragmentos de vidro quando este é quebrado.

Os maiores fragmentos foram coletados e observados em microscópio eletrônico de varredura e analisados pela técnica de espectroscopia de energia dispersiva por Raios X (EDX), para determinação de seus componentes químicos.

Segundo o autor do estudo, os resultados deste caso comprovam a necessidade de se atentar a micro vestígios que podem estar presentes com suspeitos, principalmente em calçados, e não apenas a vestígios que os suspeitos podem deixar no local do crime.

Clique aqui para ler o estudo na íntegra

https://revista.rbc.org.br/index.php/rbc/article/view/720/384

 

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