Peritas de Campinas publicam artigo na Revista Brasileira de Criminalística


As peritas criminais Marina Mascarelli, Larissa Dantas e Mariana Cepollaro, do Núcleo de Perícias Criminalísticas de Campinas, publicaram um estudo de caso sobre suicídio de jovens por meio de nitrito de sódio na Revista Brasileira de Criminalística. As cientistas analisaram quatro casos ocorridos na região de Campinas entre 2019 e 2021 e o trabalho serve de alerta não só para os peritos criminais, mas para toda sociedade. O estudo ganhou um prêmio no Congresso Nacional de Criminalística, com o 3º lugar na categoria Local de Crime.

O objetivo do estudo é alertar as autoridades, em especial os peritos criminais que atuam em locais de crime, para essa nova “tendência” de suicídio entre adolescentes e jovens adultos e apontar os principais vestígios característicos para elucidar os casos de morte suspeita, bem como a eventual atuação de partícipes na indução ao suicídio. As peritas explicam que, apesar de ser facilmente encontrado, o nitrito de sódio (ou mais precisamente as espécies geradas após a ingestão) não é rotineiramente analisado nos laboratórios de toxicologia forense.

Em alta
O estudo revela que relatos de suicídio por nitrito vêm aumentando desde 2015. Nos quatro casos analisados, foram encontrados dois tipos de medicamentos que têm sido utilizados em associação com o objetivo de reduzir o vômito e aumentar a tolerância estomacal ao nitrito de sódio ingerido.

Todos os indivíduos eram do sexo masculino, adolescentes ou jovens adultos e pertencentes à classe média. Outros aspectos coincidentes nos casos foram a presença de medicamentos para o trato gastrointestinal e a posição e local de encontro dos cadáveres, o que sugere que as vítimas possam ter seguido um ‘roteiro’.

A análise do celular de uma das vítimas mostrou que ela acessou uma página de internet contendo instruções para suicídio por ingestão de nitrito, onde eram apresentadas dosagens e associações com medicamentos. Marina explica que esse foi o ponto de partida das peritas para a identificação de outros três casos na região de Campinas.

No estudo, as peritas informam que páginas da web com instruções para uma autoeliminação rápida e sem sofrimento têm ganhado cada vez mais espaço na internet. “Ausência de debates sobre transtornos mentais e o fato de o suicídio ainda ser considerado um grande tabu na sociedade brasileira podem explicar o fato de indivíduos procurarem esse tipo de fórum para se sentirem acolhidos e compreendidos por seus pares. No entanto, destaca-se que ao invés destes jovens receberem ajuda para tratamento de suas mazelas, estes se deparam com informações de incentivo ao suicídio, além de falsas promessas de uma morte indolor”, diz trecho do artigo.

Características
Em relação aos achados perinecroscópicos, as peritas destacaram a cianose de lábios e leitos ungueais e marcas hipostáticas escuras ou acinzentadas, explicadas pela formação de MetHb. “A contração das mãos, a presença de vômito e defecação encontradas também são achados relevantes que parecem não corroborar a teoria de uma morte rápida e sem sofrimento”, diz o estudo.

Segundo as cientistas, outro aspecto relevante é a realização de perícia em celulares e computadores das vítimas. “A busca nestes dispositivos pode revelar a participação em fóruns de incentivo ao suicídio e ajudar a elucidar não só o caso em questão, mas também a prevenir outros. Nesse sentido, a investigação aprofundada é fundamental para a identificação das pessoas e desarticulação de grupos criminosos que instigam a prática do suicídio”.

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