Operação Sufoco ignora déficit e agrava sobrecarga de policiais


Há três anos o Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP) envia ofícios à Secretaria de Segurança Pública (SSP) alertando para o déficit de policiais técnico-científicos, que hoje chega a 15% do efetivo. Há três anos, cobramos a abertura de concursos públicos e há três anos nossas solicitações são negadas. Nesses documentos alertamos para a sobrecarga dos peritos e os riscos que isso impõe à saúde física e mental dos servidores. Alertamos, também, que essa situação compromete diretamente a qualidade do atendimento prestado à população, que paga caro para ter segurança pública. "Não travamos essa luta sozinhos. Sindicatos e associações que representam policiais civis, militares e policiais penais vêm lutando há anos pela recomposição dos quadros e valorização dos profissionais que cuidam, juntos, da segurança dos paulistas”, comenta o presidente do Sindicato, Eduardo Becker.

Depois da explosão da criminalidade nesses primeiros meses de 2022, o governador, que é candidato ao governo do Estado, trouxe uma solução mágica: aumentar a presença da polícia na rua, sem aumentar o número de policiais nas corporações. O pacote de medidas, chamado de Operação Sufoco, aposta que é possível reduzir a criminalidade sobrecarregando ainda mais profissionais de segurança que já estão exaustos, doentes e desvalorizados. "Com o deficit existente hoje nas carreiras da Segurança Pública, quem ficará no sufoco serão os policiais e não a criminalidade e quem sofrerá é a população, que contará com um policial ainda mais exausto", afirma Becker.

A medida foi anunciada nesta quarta-feira, como uma resposta à série de crimes cometidos por falsos entregadores que vêm tirando o sossego da população. Um desses crimes resultou na morte de um jovem durante um roubo de celular. Algo inaceitável e que exige, sim, uma resposta do Estado.

Para garantir a sensação de segurança da população, o governo de São Paulo afirmou que colocará mais policiais nas ruas, oferecendo pagamento de diárias por jornada extra, no período de folga deles. Serão gastos R$ 41,8 milhões por mês com o pagamento de horas extras e com o aumento dos gastos do uso de viaturas e aeronaves.

Apesar de a Operação Sufoco não citar a Polícia Técnico-Científica, ela vai impactar e muito o trabalho dos peritos criminais. “O resultado do trabalho dos policiais militares e civis é processado pela Polícia Científica, que elabora os laudos para os processos criminais. Não adianta adotar uma ação que pode aumentar o registro de crimes, sem reforçar as estruturas que vem logo depois, porque isso vai gerar atraso considerável na realização de perícias e expedição de laudos. Sobrecarregar ainda mais um serviço não ajuda a se fazer justiça, nem contribui pra segurança do cidadão”, afirma o presidente do SINPCRESP.

É uma situação paliativa, que, adotada isoladamente, não cumprirá o objetivo de solucionar o grave problema da falta de segurança no Estado. “Para combater a criminalidade é preciso contratar mais policiais por meio de concurso público, investir em salário digno, equipamentos, treinamentos, inteligência e, sobretudo, na valorização do profissional. Hoje o salário da polícia de São Paulo está entre os mais baixos do Brasil”, completa Becker.

Segurança se faz com políticas públicas que valorizem o policial, invistam em tecnologia, inteligência e investigação. Não basta só colocar mais policiais sobrecarregados nas ruas. Não há espaço para soluções mágicas quando o que está em jogo é a vida da população e o bem-estar dos servidores.

Nossa categoria tem sido massacrada ao longo de décadas com uma política sistemática de desvalorização que ultrapassa a questão salarial. Os policiais estão trabalhando em ambientes insalubres e em condições de trabalho precárias. Não é à toa que o índice de suicídio entre as forças policiais vem crescendo ano a ano. E enquanto essa questão continuar sendo ignorada por governos, quem sofrerá as consequências, infelizmente, será toda população.

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