Fuga de talentos: baixos salários ameaçam o futuro da perícia criminal paulista

A recente nomeação de 217 novos peritos criminais para a Polícia Científica de São Paulo, que deveria ser um motivo de celebração e reforço para a instituição, acendeu um alerta preocupante: a contínua e crescente "fuga de talentos" para outros estados. Antes mesmo de concluírem o curso de formação na Acadepol, pelo menos cinco dos novos profissionais já anunciaram que deixarão seus postos para assumir vagas na Polícia Científica do Paraná, que oferece salários e condições de trabalho mais atrativos. Nos últimos dois meses, dois peritos deixaram SP para atuar em outro estado.
Este êxodo não é um caso isolado, mas sim o sintoma de uma crise profunda, alimentada por baixos salários, sobrecarga de trabalho e falta de reconhecimento por parte do Governo do Estado. O Paraná, por exemplo, não apenas está realizando a maior nomeação de sua história, dobrando seu efetivo, como também oferecerá um salário de R$ 26 mil a partir de 2026, quase o dobro do valor inicial em São Paulo.
Segundo o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP), Bruno Lazzari, a situação é insustentável e se baseia no que ele chama de "tríade do mal": baixos salários, volume excessivo de trabalho e falta de efetivo.
A disparidade salarial é gritante. Conforme o ranking da Associação Brasileira de Criminalística (ABC), o salário da perícia paulista (R$ 13.739) é um dos mais baixos do Brasil e fica R$ 6 mil abaixo da média nacional (R$ 20.000). "Os policiais de São Paulo têm a maior carga de trabalho do país, mas são os policiais que menos recebem. Os peritos criminais [de SP] estão em 19º lugar no ranking nacional de salários", compara Lazzari. Ele aponta que, enquanto a média salarial nacional dos peritos teve um aumento real superior a 80% nos últimos 10 anos, em São Paulo esse percentual não chegou a 40%.
Somada à remuneração defasada, a sobrecarga de trabalho é esmagadora. Os peritos paulistas, que representam apenas 19% do efetivo nacional, são responsáveis por impressionantes 54% das requisições policiais do Brasil. Essa combinação de fatores tem um custo humano devastador. A consequência direta é um aumento alarmante na evasão de profissionais. "Nos últimos três anos, tivemos um aumento de 4% para 18% no índice de evasão", revela Lazzari.
O mais grave é que São Paulo investe na formação de profissionais de alto nível, que adquirem vasta experiência devido ao grande volume de trabalho, apenas para perdê-los para outros estados. "Nós formamos os profissionais aqui, eles adquirem experiência e levam essa experiência para se aplicar em outros estados. Nós estamos perdendo os melhores profissionais", lamenta.
Para o SINPCRESP, a solução é clara e urgente. O Governo de São Paulo precisa reconhecer o valor estratégico da Polícia Científica e investir em seus profissionais. Conforme conclui Bruno Lazzari, essa crise "só vai acabar quando o Governo de São Paulo valorizar a Polícia Científica". Sem ações concretas, o estado mais rico da nação continuará a ser um mero formador de talentos para o resto do Brasil, comprometendo o futuro da segurança pública e da justiça para sua própria população.