Fábula da “Previdência Divina”
Esta é a história de dois trabalhadores que, coincidentemente, nasceram no mesmo dia, porém em famílias diferentes.
Matusalém Poverino, de família pobre, desde cedo sabia que teria de trabalhar duro para sobreviver, e assim começou no seu primeiro emprego aos 15 anos de idade, recebendo o equivalente, hoje, a R$ 1000,00. Após trabalhar e estudar por longos anos, finalmente é chamado para ocupar uma das duas vagas de um emprego com um bom salário, acima do teto da Previdência. Assumiu justo às vésperas de completar 30 anos de idade, e considerou aquilo como um presente de aniversário.
Por outro lado, Horácio Bracciocorto, de família digamos, remediada, sempre pode se valer de coisas boas, nunca lhe faltou nada e completou seus estudos sem precisar trabalhar. Fez cursos complementares, pós-graduação e tirou um “ano sabático “ para pensar na vida. Foi quando seu pai lhe disse: “Filho, você é a ovelha negra da família! Agora é hora de você trabalhar!”. Mexendo os pauzinhos, seu pai conseguiu que ocupasse a outra das duas vagas de um emprego com um bom salário, acima do teto da Previdência, o mesmo cargo do Matusalém. Assumiu justo às vésperas de completar 30 anos de idade, e considerou aquele presente de aniversário como um castigo.
Um por competência e esforço, o outro pelos diversos cursos e boa indicação, Matusalém e Horácio galgaram os mesmos postos dentro da empresa e chegaram aos 65 anos de idade no mesmo patamar e salário. Pelas regras da Nova Previdência ambos poderiam se aposentar. Horácio, ou Dr. Bracciocorto, como ficou conhecido na empresa, iria pela proporcional, ou seja, a média de 100% dos salários que recebeu multiplicado pelo fator referente aos 35 anos de contribuição – 87,5%. Como sempre contribuiu pelo teto da Previdência teria a média de R$ 5531,31 (valores de hoje), que multiplicados pelo fator redutor daria uma aposentadoria de R$ 4839,90.
Já Matusalém começou a contribuir aos 15 anos, completando, portanto, 50 anos de trabalho! Ele pensou: “Se o Horácio vai ganhar tudo isso, eu vou ganhar muito mais, pois acima de 40 anos de serviço a aposentadoria é integral!”. O que Matusalém não contava, porém, é que seus primeiros anos com salário baixo fariam sua média cair – e muito! Ao fazer o cálculo chegou ao valor de R$ 4171,92! Ele iria ganhar R$ 667,98 A MENOS que o Bracciocorto, mesmo tendo contribuído os mesmos 35 anos pelo teto e mais 15 anos extras!
Indignado, Matusalém resolveu adiar sua aposentadoria. “Trabalharei até minha aposentadoria ser maior que a dele!”, falou. E assim foi. Passaram-se 5, 10, 15 anos, e nunca que sua aposentadoria alcançava a do
Horácio. “Aquele Bracciocorto!”, vociferava Matusalém. Matusalém Poverino fez jus ao seu nome, tornando-se o mais longevo trabalhador brasileiro, batendo todos os recordes, em especial o de “Maior Contribuinte da Previdência de Todos os Tempos”.
Finalmente, aos 113 anos de idade, tendo trabalhado por intermináveis 98 anos, contribuído por 83 anos pelo teto e 15 anos sobre R$ 1000,00 (valores de hoje), cansado, fez as contas e, para sua surpresa, sua aposentadoria seria de R$ 4837,74, incríveis R$ 2,16 A MENOS que a de Horácio Bracciocorto!
Desgostoso, Matusalém falece sem nunca ter desfrutado de sua tão almejada “Previdência Divina”...
iMoral da História: O pobre vai se ferrar...
iMoral da História 2: Os Autores da Reforma da Previdência não passaram mais que 10 minutos sobre ela.
iMoral da História 3: Os Políticos (e demais simpatizantes) que defendem essa Reforma não estão se dando sequer ao trabalho de fazer uma simples conta matemática.
* texto escrito e gentilmente cedido pelo autor, Dr. Guilherme Arbenz, perito criminal do IC/SPTC/SP